Edu Falaschi, do Almah, durante apresentação no Metal Open Air. Foto por Honório Moreira/UOL. |
A cena metal do Brasil nunca viu um desastre tão grande quanto o Metal Open Air. O evento, no qual os idealizadores pretendiam juntar o pomposo número de 44 bandas nacionais e internacionais, reuniria variados estilos e nacionalidades. O fato de o show do Metallica ter sido um dos mais positivamente comentados do último Rock in Rio, no Brasil, não significa muito. Essa vertente do rock, encarada por fãs e músicos como estilo de vida, continua sobrevivendo, por aqui, no underground (e, é claro, não é o único a passar por isso). Por causa dessa situação, a decepção é ainda maior e é demonstrada pelas redes sociais e blogosfera afora.
Inicialmente, o festival apresentava estrutura, localização e um line-up de dar orgulho em qualquer brasileiro que tivesse uma vaga noção sobre bandas de metal. A cidade escolhida foi São Luís, capital do Maranhão, o que já mostra uma diferença da tradicional concentração de eventos de grande porte no eixo Rio-São Paulo. De acordo com o próprio site oficial, estava previsto todo um sistema de facilidades e atendimento ao público, como área para camping, praça de alimentação, mercados, caixas eletrônicos, atividades esportivas, entre outros. Marcado para acontecer nos dias 20, 21 e 22 desse mês, o evento tinha, antes do dia 19 (quinta), as seguintes participações confirmadas:
*A banda brasileira Shadowside divulgou a desistência anteriormente, no dia 12 de abril. |
Porém, por uma série de "problemas de gestão" nas empresas organizadoras (as brasileiras Negri Concerts e Lamparina Produções e a alemã CK Concerts), o número real de bandas a comparecerem aos palcos foi reduzido a quase metade do inicial. Das bandas canceladas, explodiram notas oficiais e declarações de desistência. Uma dessas declarações, postada no perfil oficial dos punks Ratos de Porão, explica claramente o porquê: "O responsável pela emissão de nossas aéreas de
volta para São Paulo seria o festival Metal Open Air, que não honrou com esse
compromisso. Além disso, nós temos o contrato assinado pela produção do
festival, que não honrou com as cláusulas determinadas. Tentamos de todas as formas durante dois dias
reverter a situação uma vez que nosso cachê estava pago mas sem aéreas, fica
impossível."
Dave Mustaine, do Megadeth. |
E não foram atingidas apenas bandas brasileiras - o Blind Guardian, banda alemã de power metal que já tem mais de 20 anos de experiência, publicou a seguinte nota em seu site oficial: "Devido a problemas técnicos e administrativos, fomos forçados a cancelar o show desta noite. Até onde entendemos, parece que a gestão local não foi capaz de assegurar um ambiente próprio para o festival. (...) Sentimos muito por essa situação totalmente insatisfatória, mas os erros dos produtores locais tornam impossível mesmo um show improvisado". Mesmo o Megadeth, que conseguiu se apresentar e animar bastante a platéia, teve reclamações. “Se não fosse pela nossa equipe, o festival provavelmente não teria acontecido. Eles são tão modestos que diriam algo do tipo ‘só fizemos dos limões uma limonada’, mas foi realmente como se eles tivessem feito seda de pele de porco”, afirmou o guitarrista Dave Mustaine, pelo Facebook.
Foto por Honório Moreira/UOL |
O público do festival também foi lesado - de várias formas. Quase nenhum dos serviços e facilidades oferecidos no site oficial do Metal Open Air fizeram parte da sua estrutura. Isso se traduziu em escassez de comércio de alimentos, falta de caixas eletrônicos, de espaço próprio para camping e (o mais básico) de banheiros. Para completar, a conclusão de tudo foi o cancelamento do festival em plena manhã de domingo, que deveria ser o último dia de shows. “É muita sacanagem eles não virem avisar a gente de nada. Não sabemos o que está acontecendo, estamos indignados”, disse o maranhense Cícero Luis, em entrevista ao UOL música.
Além das falhas apresentadas, o comportamento das empresas e dos profissionais envolvidos também foi muito distante do exemplar. Na nota oficial da Lamparina Produções, a empresa "afirma que os problemas causadores da interrupção do evento não são somente de sua responsabilidade" e, ainda, que "Os representantes da Negri é que ordenaram ou orientaram as bandas a não realizar os shows. Todo o clima de terror que foi instaurado entre as bandas e os técnicos foi causado pela Negri, de onde partiu a ordem de não tocar". O mesmo comunicado também nega qualquer problema nas "condições técnicas", tão citadas pelos próprios artistas como insuficientes. Sem falar nas declarações desnecessárias de Felipe Negri, um dos responsáveis da Negri, via Twitter:
Apesar da discutida "falta de união" das bandas brasileiras, tanto as que se apresentaram quanto as que optaram por não comparecer expuseram seu descontentamento com o rumo que o MOA tomou. Os argumentos foram diferentes, já que as primeiras preferiram correr o risco pelo seu público e pela divulgação do próprio trabalho, enquanto as outras preferiram se negar a serem desrespeitadas pelas quebras de contrato (ou pela falta dele). Depois de todos os problemas, o que resta ainda é o público e as bandas procurando por um espaço comum.
Para ter uma noção de como estava o clima no festival, aqui vai um video da última apresentação do MOA, na noite de sábado, dos brasileiros do Korzus:
Tentaram aplicar o conceito de que brasileiro é otário e aceita qualquer merda que jogam na cara deles, mas o público metal é uma exceção.
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